16.6.06

sobre a razão e a fé

a que chamas fé? talvez possamos considerar que fé é aquilo em que se crê (acredita) quando não se tem a prova daquilo em que se está crendo, isto é, tomando como verdadeiro aquilo do qual não se tem certeza absoluta (uma prova objectivamente objectiva, isto é, matemática). Então, nós podemos ir perguntando pelo porquê das coisas. E, ao perguntarmos e inquirirmos tudo, chegamos a um ponto em que não temos nenhuma prova de coisa nenhuma! Que prova há da minha existência, da tua, ou de qualquer outra coisa que seja? Nós podemos, de facto, tanto quanto nos permite raciocinar, dizer que talvez possamos existir. Mas, na verdade, pode muito bem existir um ser, ou uma entidade, ou o nome que lhe queiram chamar, dotada de pensamento que sonha com outros seres que, também dotados de pensamento, nascem, vivem, crescem e morrem. Qual a diferença entre uma situação ou outra? Exactamente nenhuma! E tudo isso porque não temos prova nenhuma de que existimos, ou sequer de que qualquer coisa existe. Só vejo que possamos dizer, e a muito custo, que algo talvez exista, dado que temos consciência de nós próprios e de uma coisa a que chamamos mundo, que é o sítio onde nos movemos. Mas ninguém nos garante que isto é aquilo que realmente existe. E se nós nem da nossa própria existência podemos ter uma prova objectivamente objectiva, como é que podemos sequer afirmar a existência real das coisas a partir das quais apenas podemos ter percepções, ou sensações? Mais, como é que temos alguma prova de que podemos, de facto, compreender alguma coisa? E que prova existe de que existe uma coisa, a que chamamos lógica, subjacente a tudo aquilo que nos rodeia? Qual é a prova de que as relações de causa-efeito existem realmente? Nós simplesmente não sabemos... E até ao dia em que for provada por meio de uma matemática se existimos ou não, e que essa lógica é válida, só podemos fazer uma coisa: crer. E se, depois dos porquês todos, só podemos acreditar que existimos de facto, e que as outras coisas existem, então devemos chamar a isso , e assim vivemos em fé toda a nossa vida, pensamos, sentimos e falamos fé por todos os poros. Mesmo aquilo a que tão orgulhosamente falam tantos, a razão, não é mais que uma forma (mais exacerbada ainda, perceba-se) de fé. Porque a razão se baseia no pressuposto de que as coisas fazem sentido, e de que as coisas têm de fazer sentido, coisa que, tanto quanto sabemos, não foi provada por nenhum matemático. É certo que é muito atraente dizer que todas as coisas fazem sentido, porque nos parece a nós que há um sentido em todas as coisas. Mas, na verdade, não temos a prova, a certeza. E, portanto, quanto muito, só nos resta humildemente acreditar que as coisas fazem realmente sentido.