Aquela noite era quente e escura, como se estivéssemos num pais do terceiro mundo sem dinheiro para pagar um quarto de motel com ar condicionado e com mosquiteira, porque alem do desconforto do suor, estava a ser comido vivo por uma esquadrilha de zunzuns voadores canibais! Decidi parar de escrever. Estava a redigir um artigo para o meu jornal, o Ilisivel, sobre a morte, na indiferença total do resto do mundo, de uma larga fracção da população sobre a unica justificação de que eram de cor diferentes. Nunca pensei que os coelhos castanhos fossem alvo de tanta barbaridade da parte dos coelhos brancos de olhos vermelhos. Cor de raiva que faziam favor de transformar em actos violentos e sanguinarios. Mas como o resto do mundo, estou a cagar para isso e só me interessa o futebol, o sexo e comprar cerveja. Por isso deixei o artigo de lado e fui a casa de banho lavar os dentes, porque hoje em dia um bom emprego ja não se deve a um bom currículo, mas sim a dentes bem branquinhos e um aspecto exterior intocável, mesmo se, por baixo da farda, sente-se a falta de higiene. Ia por a pasta, de dente, na escova, de dente também, mesmo se as vezes serve para limpar as janelas, quando a pasta salta, depois duma fragil pressão dos meus dedos, como um míssil americano no iraque, vai disparado para um ponto de chegada não definido. Pensei logo “naquilo”. Era mais uma mensagem que ele me mandava!
Já fazia uns belos meses que não me masturbava, e receber esta mensagem neste momento em que estava preste a ceder aos apelos carnais, fez me ganhar mais força nessa minha luta. A luta da minha vida! Deus queria atraves a minha pobre pessoa mostrar ao mundo ó quanto cruel somos, e fazer-nos parar com esse genocido! Cada bocado de líquido de vida vinha com milhões de vidas provaveis. A Vida estava em perigo! Milhões de filhos, futuros padres ou militares eram assim mortos por minuto em todo o mundo, e principalmente nos Estados Unidos, campeão mundial do “cinco contra um”!
Era a mensagem para eu começar a preparar a nova jihad contra a masturbação! Decidi então, depois de lavar os dentes, apresentar em vez do artigo sobre os coelhos um texto edificando a minha nova cruzada religiosa ao meu editor! Já imaginava cultos, igrejas, musicas relatando a minha luta pela Vida! Escrevi e reescrevi, vez sem conta, durante o resto da noite até ter entre as minhas mãos, divinas, o texto edificador da nova luta! Não conseguia dormir de tanto nervoso, e por isso sai de casa as cinco da manha para o jornal! Já imaginava a cara de supresa e de orgulho dos meus colegas ao verem que Eu tinha sido O Escolhido. Apanhei um taxi logo na primeira esquina e cheguei 20 minutos depois ao escritório, sede do mensageiro, do difusor da palavra! Desci do taxi depois de dar uma bela gorjeta ao taxista e atravessei a rua...
“Um carro atropelou hoje de manha, em frente ao nosso jornal, o nosso defunto e sempre lembrado colaborador João Freitas”. Era o titulo de um artigo da terceira pagina do Ilisivel, mesmo ao lado da foto da “bimba da semana”. Estava lá referido o facto de João Freitas estar sobre efeito de heroina quando encontrou a morte...
A vida é uma droga! Mas droga é morte! Um ponto está sempre entre dois pontos! Mas podera sempre estar mais ou menos afastado de um deles...
Texto escrito pelo Partidario da Morte (já que existe os Partidarios da estupidez..oups... Vida...)