29.7.06

Nova arma contra a pornografia: o IRMF

Ora aqui está uma bela notícia que li hoje no Courrier Internacional nº 69 (o número até vem a calhar). Finalmente posso ler um jornal do princípio ao fim, as férias também trazem destas coisas boas!!
Esta notícia chocou e fez-me rir ao mesmo tempo. E foram reacções tão subconscientes que nem consigo justificá-las como deve de ser. Sempre achei que o problema da pornografia estivesse na exploração que fazem dos actores (mulheres e homens, já agora...) e nunca na pobre pessoa que é "forçada" a comprar revistas ou filmes porno. Comparar a pornografia com drogas ou tabaco é simplesmente estúpido. No entanto, se quiserem processar a industria pornográfica como fizeram às tabaqueiras aqui vão mais umas ideias para futuros alvos:
.MTV - pelos video-clips que lá passam e cantoras Pop em geral;
.Telenovelas da TVI - quase todas mostram uma mamita ou outra na apresentação inicial;
.A vizinha giraça do prédio que está do outro lado da rua;
.Raparigas Hots da faculdade;
.Revistas tal como a Maxmen, playboy, e outras;
.Eventos de concentração de motars;
.Empresas que fazem biquinis (estou agora a lembrar-me do belo painel que aparece no início da A1, da Triumph)
. e outros...
Ohhhh, não estou a defender a pornografia, acho que é má, mas não acredito que seja com estes estudos que vão acabar com isto...

27.7.06

Du Pouvoir et du Contre-Pouvoir


Hoje fui a uma mais uma concentração! Não de motares, não. Foi uma realizada em frente a embaixada de Israel para mostrar o desagrado face ao ataque ao Líbano.
Estava lá bastante pessoal, com as caras que começo a reconhecer, e consegui fugir as câmaras de televisão.
Eu estava lá porque acho triste estarem a acabar com os dois únicos países da região que estavam mais virados para o "ocidente", o Líbano e o Iraque. Países que ficam mal no panorama estabelecido onde se quer uma grande diferença entre "Ocidente" e "Países Árabes" para haver um dito “choque de culturas”. Assim podermos dividir o mundo em dois, como no bom tempo da guerra-fria, com os EUA a exercerem um papel de hegemonia. O poder só é visível quando há oposição de forças.
No Iraque, mesmo com a ditadura do Saddam, havia uma certa abertura de espírito (coabitavam varias religiões e fracções politicas) e havia uma liberdade de expressão. No Líbano, houve sempre fortes laços com o Ocidente (e outra vez mistura de religiões) ao contrário de outros sultanatos e repúblicas da região. Enfraquecidos esses países, podemos então sem problemas implantar a ideia de termos de um lado uma sociedade judeo-cristã versus uma sociedade islâmica do outro. As razoes para tal são imensas e podemos passar horas a discutir sobre isso, uns dizendo que é religioso/politico, outros económico, outros tudo ao mesmo tempo. Mas o que interessa é que o resultado dessas jogadas (tipo Risk ou Age of Empire) mata todos os dias dezenas de civis nos diferentes campos e isso não podemos tolerar.

"Si chacun des groupes ethniques, religieux ou linguistiques prétendait au statut d'Etat, la fragmentation n'aurait plus de limite et la paix, la sécurité et le progrès économique pour tous deviendrait toujours plus difficile à assurer." [Boutros Boutros-Ghali]

22.7.06

Anjinha ou diabinha?


Estava a começar a escrever este post quando me lembrei de ver se não destoaria de todos os outros posts. Bem... mas claro que sim!

Depois reparei no subtítulo do blog e percebi quase nada - é a opinião de alguém (humorista francês, vi no google) que parece dizer que não pensar é mau (foi assim que interpretei mas até que pode ser o contrário). De qualquer das maneiras é assim que penso: se temos a faculdade de pensar (e pensar só traz mais à nossa vida, demasiado curta para tudo o que se pode fazer ou pensar por isso não percam muito tempo a ler isto) e não o fazemos então somos demasiado estúpidos.

Uma das coisas em que gosto de pensar é no que fiz durante o dia ou a parte da vida de que me lembro. Isto leva-me sempre a considerar as motivações das minhas acções, não no sentido imediato mas noutro que me faz pensar em Deus e vida depois da morte. Muitas pessoas acreditam numa recompensa depois de morrer (não recompensa mas sim objectivo) e para definir o local para onde se vai é feita a contagem do bem VS mal feito na vida que acabou de desaparecer (não desaparece realmente pois de outra maneira não precisávamos de pensar no que se passa depois de morrer...).

Isto tudo para introduzir a imagem deste post, a contagem feita a uma colaboradora deste blog (não digo quem... mas colaboradora só há uma) a brincar claro! Com um pouco mais de tempo a coisa estaria ainda pior - a caminho do jantar mais ideias que significavam mais barras para o diabinho surgiram e não estão ali contabilizadas! Ahhh e algumas das barras da anjinha estão um pouquinho aldrabadas...

19.7.06

De L'Amour et de la Douleur

Hegel pega no telefone e marca o numero do seu ilustre amigo e companheiro de viagem Deleuze. Este responde com uma voz viva e radiante como de costume e lhe é perguntado se iam se encontrar no dia seguinte. Ao ouvir uma musica como pano de fundo:
Deleuze: Sabes? Esta musica fica te bem.
Hegel: Qual musica?
Deleuze: Sitting, Waiting, Wishing.
Hegel (ao libertar um grande sorriso): És lixado!
Deleuze (a rir): Eu sei. Olha a Hannah (Arendt) vem?
Hegel: Não falei com ela ainda, mas tenho de saber as horas antes...Olha traz a tua Pen, que me apetece ouvir musica.
Deleuze: Ai é? Olha não levo!
Hegel: Porquê? Queres levar porrada?
Deleuze: Quero! Assim vou ver se tens tomates! Mas prometes que depois de me bateres falas com a Béatrix (Beck)!
E que lhe dizes o que se passa na profundeza do teu coração, nas tuas entranhas, no teu "eu" interior, no teu "ai que já não posso mais"!
Hegel: Pois eu acho que o amor se encontra mais no interior do cérebro, e causa tal pressão, que tanto te sentes triste como extasiado...
Deleuze: Que ficas com meningite?
Hegel: E meningite também! Estou com meningite, ai caraças!
A conversa continuou sobre temas como a função da linguagem na perspectiva do mundo ou sobre o novo lugar da arte na expressão da dor na época contemporânea.

No dia seguinte, os dois amigos encontram se em frente do Petit Palais, onde iam ver uma obra do Delacroix.
Deleuze: Então como anda o amor?
Hegel: Epá descobri que afinal o amor se encontra no estômago!
Deleuze: Ai é?
Hegel: Dá-te cá umas voltas!
O amor ataca em vários sítios e em diferentes horas, mas ressentir a (sua) dor nunca soube tão bem.

(Picture took in Buenos Aires, Argentina)

7.7.06

Du Rêve et de la Raison


Numa noite cinzenta (cinzenta? absurdo!) de Janeiro, dois velhos amigos encontram-se no café da Dona Émilia para beber um copo e conversar.
Porque como dizia Martin Buber, ou antes dele os poetas Sophron e Epicharmus e o filosofo Platão, o dialogo é o elemento predominante na filosofia.
Não uma forma de chegar a conclusões argumentando, isso revela mais de uma querela, mas uma forma de entrar em communicação e graças a isso crescer.
A conversa é animada e ao falar de uma estadia prolongada de Horkheimer na Argentina, este ultimo revela uma grande saudade do tempo passado là.
E ao enobrecer a mentalidade e o modo de viver argentino, ele mostra claramente a sua vontade de là estar e a tristesa que sente por não poder.

Schopenhauer : A vida é uma luta tão grande por aquilo que realmente queremos. E o pior é que quando já temos o que queremos, queremos sempre mais qualquer coisa...
Horkheimer : Sempre...eu estava là e estava a adorar mas queria estar noutra...para saber como é.
Schopenhauer (a rir-se) : É como a música do Variações, só estamos bem aonde não estamos!
Horkheimer : Ya, porque estamos sempre melhor nos sonhos, e sonhamos sempre com "onde não estamos".
Schopenhauer : É verdade...viver é sonhar e é o sonho que nos mantém vivos.
Horkheimer : Ya, mas também faz com que as vezes não vivêssemos. Porque estamos sempre desejosos de estar noutro lugar, e tenho medo de ser assimm...e sou.
Schopenhauer : Tu és um filho do vento, e vais conforme diz a vontade... não te podes prender a nada. Mas não te esqueças que os filhos do vento ainda caminham com os pés assentes na terra.
Horkheimer : E que consequência tem isso?
Schopenhauer : Se para caminhar precisas de ter os pés assentes na terra, tens de ter atenção para onde pisas, não vás pisar os sítios errados.
Horkheimer : O problema é que com a cabeça no ar não se vê onde se anda...
Schopenhauer (com um sorriso) : Então tens de saber sentir quando estás a pisar o caminho certo, e quando pisas o errado...
Horkheimer : Ser consciente dos meus actos...
Schopenhauer : Sempre...Daquilo que fazes e daquilo que as consequências desses actos fazem.
Horkheimer (ao pegar nos seus pertences) : Epá o meu próximo acto é ir para a cama (levanta-se) Ciao, fica bem!
Schopenhauer : Estás a ver? a consequência disso é má! Porque assim fico só eu aqui.
Horkheimer : Mas assumo, e vou sem remorsos!
Schopenhauer : Inteligente! Assim não fico chateado. abraços!

Horkheimer e Schopenhauer abraçam se e Horkheimer sai ao por o seu chapéu sobre os seus cabelos brancos.

(Fotografia tirada por Mitch Bacano na Öresundsbron, ponte que liga a Dinamarca e a Suécia, Fevereiro 2006)